criticidade cristã

Ontem comemoramos em casa nosso segundo aniversário de casamento com um lanche e um bolo para nossos pais. Depois da comemoração e muita conversa todos se despediram e voltaram para seus lares. Já mais tarde da noite, pela varanda, me chama a atenção a movimentação numa esquina um quarteirão à frente. A lâmpada no poste mais próximo pisca. Uma picape prateada se aproxima da esquina em baixa velocidade e pára. Aproxima-se do carro um travesti que faz dessa esquina seu "ponto". Depois de uma breve conversa a picape se vai e o travesti retorna à escuridão. Consigo distinguir sua silhueta e, por alguns minutos observo sua atividade. Caminha de um lado para outro, se aproxima da esquina, volta para sentar em algum banco improvisado enquanto espera.

Sou tomado de uma forte emoção. Ali estava eu, em meu apartamento, confortável vivendo o sonho da classe média brasileira. Na esquina em frente, outro ser, sob meu ponto de vista completamente degradado de sua condição humana. Prostituindo-se para ganhar o "pão de cada dia". As lágrimas chegaram aos olhos mas eu as contive para não "estragar" a noite. Quem seria essa pessoa? Que condições o levaram ao seu estado? Como vive? O que sente diante da sua realidade? Será que ele tem consciência do amor de Deus expresso por Jesus na cruz? E eu, o que faço por ele? Deveria fazer algo? Como ele reagiria? Como levar a mensagem do amor de Deus para ele? É um caos de sensações: tristeza, decepção, compaixão, medo, vergonha.

Jesus andou com "pecadores" e até afirmou que veio ao mundo justamente para salvá-los. O verdadeiro cristianismo precisa resgatar a dignidade humana e alcançar muito mais do que já tem feito até hoje. Enquanto continuo pensando no homem lá de baixo, sinto-me parte desse fracasso.